ABSTRACT

Depois da Revolução de 1917, o governo bolchevique começou a administrar uma grande federação de nações cujos cidadãos menos instruídos não sabiam ler nem compreender as respectivas línguas. Entre os que trabalhavam em prol da revolução estava o poeta, músico e editor de cinema Dziga Vertov, compilando apressadamente cinejornais para as exibições regionais do trem Agitprop. Vendo como uma edição e um uso imaginativos da câmera afetavam o público, ele produziu seu manifesto Kino-Eye — uma receita para filmar a vida sem imposições sobre ela. Sua obra-prima O homem da câmera (1929, URSS; Figura 5-9) é uma sinfonia visual. Ela começa em uma sala de cinema e corre pelas ruas para desfiar muitas vertentes da narração simultânea — nos lares, nas ruas entre os sem-teto, em oficinas e fábricas, na praia — durante um dia tumultuado para os cidadãos de Moscou e Odessa. O filme funcionava praticamente sem intertítulos, mostrando o operador de câmera onipresente em gruas voadoras, escalando pontes ou em pé sobre edifícios. Em sua galeria de ilusões brincalhonas, Vertov inclui todas as formas de truques fotográficos. No final, após concluir a virtuosa performance, a câmera se curva em agradecimento, sobre as longas e animadas pernas do seu tripé.